Do caráter pluricêntrico da língua portuguesa resulta um panorama diferenciado no tocante à oferta formal do ensino do Português como Língua de Herança (PLH). Por razões históricas (FLORES, MELO-PFEIFER, 2014), a comunidade portuguesa que vive na Alemanha tem acesso ao ensino formal do PLH. Devido à política linguística da qual decorre essa oferta constata-se uma estrutura pedagógica amadurecida se comparado ao ensino do PLH ao qual a comunidade brasileira tem acesso, na diáspora em geral, notadamente no caso alemão (COSTA WÄTZOLD, 2019, em preparação). Dada a carência do ensino formal voltado designadamente para a comunidade brasileira, surgem iniciativas para a transmissão intergeracional no âmbito não formal/informal. É nesse contexto que se situa essa contribuição. Pretende-se dar visibilidade às representações das percepções dos envolvidos(as) no processo de ensino/aprendizagem do PLH. Esse recorte temático é parte de um estudo mais alargado, em curso no âmbito de um doutoramento na Universidade de Hamburgo. Realiza-se para tanto um estudo qualitativo através de uma abordagem etnográfica. Para esta investigação foram realizadas entrevistas com as educadoras e os pais que frequentam a Mala de Herança de Munique, uma iniciativa que atua há 12 anos promovendo o PLH, e que se expandiu significativamente pela Europa. Os dados colhidos foram interpretados pelas análises do discurso, de conteúdo e análise multimodal (MAYRING, 2010; Van LEEUWEN, 1996), ancorado em uma abordagem ecológica do ensino de línguas segundo Van Lier (2004). Pretende-se ilustrar, através das metáforas que emergem das vozes nos grupos investigados, as representações (CASTELLOTTI, V., et al., 2001) que corroboram a perspectiva ecológica de Van Lier, possibilitando uma melhor compreensão dos efeitos e do potencial da Mala de Herança como dispositivo didático para o ensino não formal do PLH.