Imprimir Resumo


Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


Urupês e a Belle Époque: a renovação contraditória da arte

Autores:
Bárbara Del Rio Araújo (CEFET-MG - Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais)

Resumo:

Esta comunicação analisa como os pressupostos artísticos presentes na obra Urupês acabam por demonstrar os ideais da Belle Époque tal como a vontade de modernização nacional, seja ela no âmbito urbano-social, econômico ou estético (SEVCENKO, 2003, p.45). Urupês (1918) é um livro de contos publicado por Monteiro Lobato, demasiadamente saudado por incentivar a criação de uma “Companhia Editora Nacional” (LOBATO, 1959, p.1). No bojo do desenvolvimento, a obra tem ensejos de renovação, sobretudo no ensaio cujo título é homônimo, em que se configura uma proposta artística, desenvolvida a partir de uma linguagem ornamental e pretensamente dialógica com os clássicos da literatura, reveladora de um fundo moralista e polemicamente didático. Entender a relação entre o que se concebe como arte nesse artigo de Monteiro Lobato e como ela se estetiza nos contos de Urupês é um dos nossos objetivos. O outro objetivo, em decorrência, consiste em mostrar que essa renovação se liga à Belle Époque na medida em que revela uma tentativa de colocar o país na verve das novas tendências, fato que potencializa as suas contradições. A configuração artística dos contos conseguem apontar “as mazelas físicas, sociais e mentais do Brasil oligárquico da I República, que se arrastavam por detrás de uma fachada acadêmica e parnasiana” (BOSI, 1969, p.67). Nessa perspectiva, Lobato louva o progresso e o mundo moderno ao mesmo tempo em que se inclina a preservar a herança colonial e a cosmetização da realidade, desenvolvendo assim uma verve crítica dos problemas sociais brasileiro (PESAVENTO, 1999, p.12). Interessante é notar que, a despeito da tendência progressista, Urupês perpetua uma tendência conservadora e elitista, em que a “contradição aparece e a identidade se converte em instância de uma doutrina da acomodação” (ADORNO, 1992, p. 151), legitimando tensões estilísticas na narrativa capaz de expor o funcionamento da Belle Époque à brasileira.