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Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


Ontem e Amanhã: discursos que rangem na contradição do político

Autores:
Lucília Maria Abrahão E Sousa (USP - Universidade de São Paulo)

Resumo:

Como tomar o sem-limite da saturação de certos sentidos em um processo discursivo cujo avesso é o impedimento de lembrar e dizer de algo que se quer manter apagado? Didi-Huberman (2017) sinaliza um modo de pensar a memória a partir dos limites institucionais dados pela intervenção de Estado. Ao visitar o campo de concentração onde seus avós foram mortos na Polônia, ele produz uma série de fotografias e escreve sobre elas, inclusive sobre o único vestígio daquele lugar, a saber, as cascas de bétula espalhadas no chão. Da memória, restam fissuras, vestígios, lacunas, rasgos e resíduos de cascas e pedras. O modo como a dor daquele local obsceno e violento é silenciada produz uma memória que se institucionaliza, transformando o local em museu de Estado hoje aberto à visitação, e que faz parecer evidente a regularização e circulação de outros efeitos deslocados de seus usos sociais já postos em funcionamento antes. Trata-se de uma decisão institucional que implica sobrecarregar de repetições apenas um gesto de leitura sobre aquele período e deixar soterrados os modos de dizer do/sobre o inominável; isto implica considerarmos a divisão dos sentidos, a contradição e o político no jogo da língua ao modo do que Pêcheux (1969) nos ensinou tão bem. Tomando os dois autores citados, pretendo analisar discursivamente como os efeitos da escravidão brasileira, da tortura e da violência estão silenciados na construção simbólica do Museu do Amanhã e sustentam o dizer do Museu do Ontem, ou seja, como se dá esse litígio inscrito no centro antigo da cidade do Rio de Janeiro, fazendo falar da contradição e o conflito nas tramas do urbano. (FAPESP, 2016/22675-8), Bolsa PQ/ CNPQ)


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FAPESP