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Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


Literatura, comunicação e hegemonia em Lima Barreto

Autores:
Dionisio David Marquez Arreaza (UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Resumo:

Esse trabalho valoriza o romance Recordações do escrivão Isaías Caminha(1909) como um exercício comunicacional de escrita literária moderna e crítica social de Lima Barreto no momento de consolidação da Belle Époque(1889-1922). No plano narrativo, o autor diz publicar as memórias de discriminação social e econômica de um amigo, a saber, de um narrador-protagonista interiorano numa cidade e sociedade marcada pelo conservadorismo e o racismo. No plano comunicacional, aprecia-se a circulação e a recepção de uma obra literária que reproduz o meio jornalístico do Rio de Janeiro, o que relaciona a vivencia do espaço urbano (ruas, praças, prédios, bondes) e a nova subjetividade do profissional da palavra escrita. Assim, a obra obtém um movimento duplo: crítica ficcional à ideologia conservadora carioca e, ao mesmo tempo, participante dos “aparelhos hegemônicos” da Primeira República na época consolidada da cultura da reprodução do texto impresso, a saber: a dos jornais, das revistas e a da própria obra literária. Ao entender essa obra, junto com a série impressa da época, como manifestação do incipiente “Estado ampliado” brasileiro, no sentido de Gramsci (1926) revisitado por Carlos Nelson Coutinho (1999), é possível notar a presença da escrita limiana numa situação pouco homogênea que, ao contrário, contribui para uma heterogeneidade de formas de concorrência pelo poder político e a hegemonia cultural. Isso aponta para uma problematização da modernidade como projeto inclusivo e harmônico de desenvolvimento que, ao contrário, só beneficia as elites brancas.


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