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Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


FRONTEIRAS CATEGORIAIS: O PARTICÍPIO COMO EXEMPLO EMBLEMÁTICO

Autores:
José Carlos Santos de Azeredo (UERJ - UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO)

Resumo:

Fronteiras categoriais: o particípio como exemplo emblemático

Esta comunicação propõe uma revisita à polêmica sobre o lugar do particípio formador da ‘voz passiva’ no conjunto das classes de palavras: uma forma de verbo ou uma variedade de adjetivo? Os fundadores da descrição gramatical no Ocidente basearam-se nas propriedades mórficas das palavras para distribuí-las em classes, e por esse caminho distinguiram o nome e o verbo. O particípio ganhou um lugar próprio por ser uma mistura de nome e verbo. As gramáticas modernas em geral preferiram agrupar o particípio na classe ‘verbo’, opção que pode ter sido motivada pela ideia de assegurar às construções de voz – tal como se fazia na descrição do grego e do latim clássicos – um lugar ao lado das variações de tempo-modo e número-pessoa, haja vista a alta regularidade da correspondência entre as construções de um par como Ana guardou as joias/As joias foram guardadas por Ana. Assumida a natureza flexional da diferença entre guardou e guardadas, fica implícito que estas duas formas pertencem à mesma classe. Outros pares de construções podem, porém, despertar questionamento. Seria a categoria ‘particípio’ aplicável ao adjetivo que acabamos de empregar? Como decidir essa questão em face do par ‘categoria aplicada ao adjetivo’ / ‘categoria aplicável ao adjetivo’. Poderíamos dizer que aplicável é um particípio tanto quanto aplicada? A comutação dessas formas demonstra que a diferença entre elas envolve aspecto e modalidade, mas não classes de palavras. Em ambas as construções, verifica-se a previsibilidade semântica que vem sempre acompanhada de alta produtividade, tornando dispensável, em função da redundância, o respectivo registro lexicográfico. A alegada ‘natureza verbal’ que embasa a permanência do particípio variável na classe ‘verbo’ está presente, em alta escala, em adjetivos deverbais em –vel. Por que não reunir uns e outros na mesma classe adjetivo?