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Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


VOZES DE RESISTÊNCIA NO ROMANCE UM DEFEITO DE COR DE ANA MARIA GONÇALVES

Autores:
Thaís Fernanda Rodrigues da Luz Teixeira (UNESP/FCLAR - Unesp)

Resumo:

Este trabalho, a partir da obra Um defeito de cor de Ana Maria Gonçalves (2016) tem o intuito de examinar como a historiografia oficial é reescrita a partir da trajetória de Kehinde. No romance histórico analisado a narradora não só recupera e dita suas memórias a fim de reconstruir suas vivências e deixá-las como legado ao filho perdido, como também constrói um diálogo repleto de significados e questionador dos discursos colonialistas. Nesse sentido, Ribeiro (2017) destaca que, para a mulher negra, falar sobre suas experiências, significa ocupar o lugar de fala, isto é, ultrapassar o silêncio instituído para quem foi subalternizado, um movimento no sentido de romper com a hierarquia. As vozes do romance remetem à resistência, à necessidade de romper os muros do esquecimento e do silêncio propagados ao povo negro desde os primórdios da escravidão, desmitificando o imaginário construído pelos colonizadores que os negros são naturalmente inferiores e não têm história (MUNANGA, 1988). Assim, o discurso trazido por Kehinde é contra hegemônico no sentido que visa desestabilizar a norma, porém igualmente é discurso forte e construído a partir de outros referenciais e geografias, visa pensar outras possibilidades de existências para além das impostas pelo regime discursivo dominante (RIBEIRO, 2017). No mais, Fanon (2008, p.33) destaca que “falar é existir absolutamente para o outro”, Kehinde cumpre a missão, pois sua voz é capaz de transgredir a norma e consequentemente escancarar os portões da invisibilidade destinados ao homem negro, ou seja, por meio da literatura é possível uma humanização histórica com o objetivo de propor aos leitores que o futuro seja (re)escrito por tantas outras vozes que ainda se encontram emudecidas.