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Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


Dos mastros coloniais ao Paralém: mito e cotidiano nas narrativas curtas de Mia Couto

Autores:
Odara Perazzo Rodrigues (UEFS - Universidade Estadual de Feira de Santana)

Resumo:

O presente trabalho objetiva analisar contos publicados nas coletâneas Vozes anoitecidas (1986), Cada homem é uma raça (1990) e Estórias abensonhadas (1994), de autoria do escritor moçambicano Mia Couto, observando a maneira como o mito está representado nessas narrativas e a importância da presença desse na busca pela preservação dos costumes autóctones e na manutenção de uma linguagem específica, contribuindo assim para a formação de uma nova identidade, que vem se constituindo desde a independência de Moçambique, em 1975, momento em que há um aumento na produção literária de obras que objetivavam a afirmação do “homem” local e a valorização de sua cultura e tradições. A literatura produzida no território moçambicano desde então, objetiva ressignificar a identidade dessa ex-colônia/recente país, que por tanto tempo esteve sob o domínio de Portugal, tendo sua cultura menosprezada pelo colonizador. Um dos traços culturais mais marcantes, e que foi fortemente reprimido pelo pensamento racional nutrido pelo colonizador, é a presença de explicações míticas para eventos naturais cotidianos. Mia Couto pauta as suas narrativas nas tradições locais e, ao optar por trazer em suas obras a presença desses mitos, inicia um diálogo entre tradição e modernidade, destacando-se no papel de ressignificar a identidade moçambicana através da literatura. Suas narrativas utilizam-se de vários mecanismos de resistência anticolonial, desde a forma inovadora como utiliza a língua portuguesa ao resgate de mitos típicos da cultura moçambicana. Para atingir o objetivo proposto, buscamos analisar o contexto humano-social no qual o mito manifesta-se nas narrativas, observando como os mitos típicos daquela região são representados nos contos através da perspectiva dos personagens construídos por Mia Couto, que buscam representar e dar voz ao homem local, que por tanto tempo esteve marginalizado.