Esta pesquisa pretende realizar uma netnografia (KOZINETS, 2014; HINE, 2000) das práticas vernaculares de letramento (Street, 1984; 1993; 2010; 2014; Barton; 1998) da esfera (BAKHTIN, 1995) literária na cibercultura (LÉVY, 2010). A contemporaneidade e o advento das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs) trouxeram consigo novas formas de interagir por meio da linguagem. Essas novas formas de interação implicam em um novo ethos, uma forma mais participativa de ser e estar no mundo. A virtualidade das interações ultrapassa os limites impostos pela territorialidade e, mesmo não ocupando espaços físicos, são reais em seus efeitos. Essa democratização do acesso aos bens culturais permite a profusão de movimentos contra hegemônicos em rede e, nesse sentido, a literatura, que até então estava associada às práticas escolares, ao cânone, ao intelectual/crítico e às esferas de poder na sociedade, foi ressignificada e passou a ser objeto de apreço, estudo e discussão de grupos de leitores reunidos em canais literários no Youtube, movimento denominado Booktubing, compreendidos neste trabalho como comunidades virtuais (RHEINGOLD, 1996). A hibridação cultural (CANCLINI, 2005) permite olhar para a cibercultura como um espaço onde ocorrem diversas práticas de letramento, inclusive da esfera literária, descentralizando, assim, a suposta exclusividade da escola como agência de letramento. Os canais literários dinamizam a relação com as diferentes representações e gêneros literários, com o cânone, além de contestar a superioridade hierárquica do crítico/intelectual que, por muito tempo, foi um dos poucos autorizados a pensar e discutir literatura.