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Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


O silêncio como memória na obra de Raduan Nassar: rastros de desobediência e desautoridade

Autores:
Gislene Teixeira Coelho (IFSUDESTEMG - Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais)

Resumo:

Literatura  e  memória  produzem  um  espaço de  imensurável  potencial  crítico,  de  onde  se  pode extrair  uma  ampla  discussão  em  torno  das  apropriações  indevidas  e  abusos  contra  a  memória.  Dessa  aliança, emergem-se  sinais  de  vida  mesmo  em  tempos  de  uma  memória  sob  medida  e  vigiada,  com  desvios significativos  dentro  de  uma  política  maior  de  desmemória.  Para  aquecer  a  discussão,  o  livro  Um  copo  de cólera,  de  Raduan  Nassar,  fornece  um  material  de  pesquisa  capaz  de  movimentar  os  acanhados  arquivos  da ditadura  brasileira  de  1964,  em  que  um  rastro  de  memórias sinaliza,  por  impressões,  ruídos  e  sintomas,  a experiência  de  um  tempo  desajustado.  Investiga-se  como  um  conjunto  de  políticas  bem  orquestradas consegue  atuar  eficazmente  contra  a  memória  coletiva,  comprimindo  o  legado  humano  ao  controlar, sobretudo,  suas realizações  artístico-culturais,  para  as  quais  se  destinam  esforços  generosos  de  interdição. Portanto,  a  obra  de  Nassar  reage  ao  totalitarismo  com  formas  sofisticadas  e  criativas  de  subverter  a  lei  do silêncio,  de  modo  a  valer-se  do  próprio  código  do  silêncio  para  imprimir, por  dentro, inscrições  do  indizível, deixando  registrada  uma  potência  de  resistência  proporcional  à  força  de  esmagamento  dos  tempos  ditatoriais. Este  trabalho  busca  investigar  um  silêncio  tendencioso e produtivo,  que  toma  seu  lugar  na  história; a saber, aproveitando-se de sua  natureza  furtiva  e  impalpável, o silêncio funciona como instrumento de proteção contra as interferências  políticas,  de  modo  que  atravessou os  instrumentos  de  controle  e  censura  e  serve  hoje  como  parte efetiva de nossa memória.