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Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


Deus, culpa e responsabilidade na constituição identitária de mulheres em situação de rua

Autores:
Maria José Coracini (UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)

Resumo:

Parte de um projeto mais amplo sobre a identidade de mulheres em situação de rua, apoiado pelo CNPq, esta comunicação tem por objetivo apresentar resultados parciais da análise de registros coletados junto a 30 (ex-)moradoras de rua, na cidade de Campinas, sob a forma de relatos de vida. O aspecto observado tem a ver com a função que adquire nos relatos a voz de Deus como orientador da vida e das transformações. São analisadas expressões como “graças a Deus”, “ai meu Deus” ou “eu tinha um caderno de Deus”, (re)velando que escrevia para se livrar da droga; ou ainda “acho que Deus me pôs a mão porque eu nunca peguei doença nenhuma”. Essas e outras frases apontam para a função salvífica, protetora e transformadora de Deus, que, por sua vez, denuncia no sujeito a culpa e esta, a religiosidade, que, apesar de presente na vida das participantes parece mais frequente na fala dos homens entrevistados também em situação de rua. Nas mulheres, a omissão do significante culpa aponta para a recorrência da estrutura histérica e para a des-responsibilizacão face aos rumos da vida. Do ponto de vista filosófico, orientador do olhar lançado sobre os registros, recorremos à perspectiva discursivo-desconstrutivista, tomando de Foucault, as noções de discurso e de relações de poder-saber; de Derrida, o caráter problematizador e a desconstrução das dicotomias que cerceiam o nosso pensamento e o nosso agir, responsáveis por discriminações e preconceitos; e de Lacan, as noções de sujeito, de identidade dentre outras. Embora com diferenças, os três intelectuais convergem no tocante à noção de sujeito descentrado e inconsciente, de linguagem (opaca, equívoca), à questão da verdade (sempre contingente e localizada) e do questionamento.