Leis e materiais didáticos, tais como gramáticas e antologias, colaboram para que se possa identificar o clima de opinião de um determinado momento, especialmente, ajudam a construir as identidades linguísticas, culturais e sociais. Além desses materiais, que, diretamente regem o ensino de uma língua, conferências, cursos, discursos também podem ser instrumentos que subsidiam o desenvolvimento da consciência do povo acerca das políticas linguísticas e da sua identidade como falante de uma língua. Neste sentido, este trabalho busca analisar o discurso de posse, para a Cadeira de Português no Externado do Colégio Pedro II, apresentado por Celso Cunha em 22 de novembro de 1952, publicado pelo Serviço de Documentação do Ministério da Educação e Cultura em 1954. Trata-se de obra relevante para a compreensão da proposta de Cunha para o Ensino de Português, que ele aponta estar em crise, e, portanto, documento importante para a compreensão do contexto político-linguístico-educacional em que o discurso é proferido. Busca-se, especialmente, as relações identitárias que aproximam e distanciam a língua ensinada no Brasil e em Portugal. Para estabelecer essas relações é necessário buscar fundamentos nos conceitos de Koerner (1996). Ainda, por se tratar de ato de comunicação em uma cena política, buscamos, sob o olhar do discurso político (CHARAUDEAU, 2006), observar as estratégias de influência para a constituição do discurso político-linguístico de Celso Cunha.