A criação das redes sociais propiciou interações verbais que não aconteceriam fora do ambiente virtual. Porém, por mais que participemos de várias delas, o contato com o outro é limitado naquele que é, talvez, o mais restritivo site de rede social: o Facebook, que começou, em 2018, a priorizar os posts de amigos e familiares em detrimento de publicações de páginas de empresas/marcas e de veículos de comunicação. Com a justificativa de ajudar na conexão entre usuários e seus interesses, o Facebook detecta e exibe preferencialmente o conteúdo de pessoas ou páginas com as quais eles mantêm contato. Da mesma forma, se no princípio cada perfil procurava maior número de “amigos”, o acirramento da questão política no país causou uma série de exclusões daqueles que não compartilham as mesmas ideias. Formam-se, então, as denominadas “bolhas”, fazendo com que, em alguns casos, as interações somente se deem entre interlocutores que partilham os mesmos interesses e o mesmo modo de valorar os acontecimentos. Ou seja, dizemos e ouvimos o mesmo a/de outros. As relações dialógicas que se estabelecem aí ainda caracterizam um ponto importante da questão do diálogo no Círculo de Bakhtin, dada a impossibilidade de recusar a interação em um discurso que é necessariamente constituído/atravessado pelo discurso do outro. Há a manutenção do princípio dialógico: enunciados valorados que se confrontam indiretamente, refletindo e refratando acontecimentos sociais e históricos, atuais ou não, ressignificados no momento em que são postos em interação direta. Neste sentido, este trabalho busca demonstrar como a oposição entre o “não-diálogo” (próprio da linha de tempo de cada usuário, que interage apenas com quem compartilha das mesmas valorações) e o diálogo (que ocorre, por exemplo, quando do comentário em um post de uma página aberta) configura uma forma de interação própria desse site de rede social.