Decat (2011, p. 42) afirma que as cláusulas substantivas da tradição gramatical só se desgarram quando formam uma sequenciação parafrástica, reiterando ou repetindo estruturas sintáticas que ocorreram antes na cadeia discursiva, contribuindo para enfatizá-las e visando a objetivos comunicativo-interacionais. Em “Não sei [onde você mora]. [Onde você quer ir.]”, a primeira oração introduzida por ONDE é argumento do verbo “saber” assim como a segunda. Contudo, esta se separa da anterior por ponto final e se encontra desgarrada desta, mas contribuindo para enfatizá-la nesse cotexto.
Em "Que as nossas palavras, nossos gestos e nossas ações, façam a diferença na vida das pessoas. Porque a vida só tem sentido se for realmente para fazer o bem", a primeira estrutura, quanto ao sentido, é denominada de optativa, porque exprime votos, tem seu verbo no subjuntivo, vem regida de conjunção “que” e permite a elipse de verbos do tipo “desejar”, segundo Góis (1943, p 65-66). Parafraseando-a com base na explicação deste autor, teríamos “Gostaria que nossas palavras, nossos gestos e nossas ações, façam a diferença na vida das pessoas”. Levando-se em conta a elipse de verbos como esses e o fato de essas estruturas serem bastante frequentes no Facebook, podemos postular que se trata de um caso de desgarramento de substantiva diferente do apresentado por Decat (2011).
Assim, pretendemos ampliar a descrição das desgarradas desta autora, aventando a hipótese de que estamos diante de um caso de gramaticalização de cláusulas completivas. Para tanto, utilizaremos postagens coletadas do Facebook como corpus. A análise dos dados seguirá a proposta funcionalista que parte do pressuposto de que a língua não é autônoma e de que o uso ajuda a definir a sua estrutura.