Em 2018, tornou-se perceptível na conversa cotidiana e nas redes sociais significativa rejeição ao Partido dos Trabalhadores (PT) e a políticos a ele vinculados, o que se viu também nas eleições gerais daquele ano. Temos como hipótese que essa rejeição fora motivada, em parte, pelo modo com que políticos e governos petistas foram referidos nos/pelos grandes jornais do país, isto é, pontos de vista e representações específicas foram incutidos na mente de parte da população brasileira, levando-a a agir de forma contrária a políticos e governos petistas. Com o objetivo de compreender aspectos dessa referenciação e representação, realizamos uma leitura crítica de notícias de 2011 a 2015 sobre a imigração haitiana no Brasil, do jornal Folha de S.Paulo, cujo caderno/seção Poder “Procura oferecer ao leitor informações pluralistas e apartidárias, para que ele exerça sua cidadania”. Nosso marco teórico constitui-se na interface da Linguística Textual, no que tange ao processo de referenciação (Marcuschi e Koch, 2002; Mondada e Dubois, 2003), com a Análise Crítica do Discurso, da qual tomamos especialmente as noções de representação social/discursiva, inculcação, efeitos textuais (Fairclough, 2003; van Dijk, 2010). Temos como principais resultados: (i) usando determinadas estratégias de construção da notícia, o enunciador-jornalista cria uma representação da Folha de jornal imparcial e “sério” (que investiga e que ouve diferentes atores sociais), mas, ao mesmo tempo, põe em xeque essa representação; (ii) evita-se criar uma representação positiva do PT, e cria-se uma representação negativa do partido e seus políticos, mediante, em parte, as formas linguístico-referenciais empregadas. São resultados que contribuem para a confirmação de nossa hipótese. E mais, nesse processo discursivo, o enunciador-jornalista desloca da gestão pública para a esfera político-partidária a possível solução de problemas vividos pelos haitianos no Brasil.