A Linguística Funcional Centrada no Uso (FURTADO DA CUNHA et al., 2013; OLIVEIRA; ROSÁRIO, 2015; FURTADO DA CUNHA, 2015) é uma abordagem que resulta da articulação de pressupostos teórico-metodológicos da Linguística Funcional norte-americana clássica e da Gramática de Construções. Esse modelo de análise vê a língua como parte integral da cognição, refletindo a interação de fatores sociais, culturais, comunicativos e funcionais. Decorre dessa compreensão a defesa do estudo da língua com base nesses fatores. Nessa abordagem integrada, a gramática é entendida como representação interativa e cognitiva da experiência do falante com a língua; portanto, ela pode ser afetada pelo uso linguístico. Assume-se que as categorias linguísticas são baseadas na experiência que temos das construções em que elas ocorrem, do mesmo modo que as categorias por meio das quais nós classificamos objetos da natureza e da cultura são baseadas na nossa experiência com o mundo, fundada nas práticas interativas. A LFCU defende a existência de processos cognitivos de domínio geral que subjazem à língua e que são responsáveis pela criação e manutenção das construções. Desse modo, esses processos podem explicar a variação sincrônica assim como a mudança linguística. A aplicação repetida desses mecanismos de processamento, os quais envolvem atividades de produção e de decodificação de  mensagens, configura a gramática das línguas. A LFCU, portanto, vê a correlação entre língua, interação e cognição de forma holística. A fim de exemplificar e de discutir tais postulados, trazemos resultados de nossa pesquisa acerca de padrões construcionais formados por afixóides de base locativa no português, na assunção de que pressões de natureza interacional, fundadas em relações de ordem dêitica, e de natureza cognitiva, a partir da teoria localista, na trajetória espaço > tempo > texto, concorrem para a formação de novas construções, que passam a integrar categorias morfossintáticas da língua.