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Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


ENUNCIAÇÃO E TRANSTORNO DE LINGUAGEM: CONSIDERAÇÕES SOBRE O AUTISMO

Autores:
José Temístocles Ferreira Júnior (UFRPE - UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMUCO)

Resumo:

Neste trabalho, objetivamos lançar algumas possibilidades para se tomar a relação entre autismo e enunciação. Desde muito cedo, a relação que a criança estabelece com a linguagem e com o outro é permeada por singularidades inscritas e manifestas no próprio processo de aquisição da linguagem, seja em crianças autistas ou não. No caso da instauração de um quadro autístico, as idiossincrasias presentes no processo de constituição subjetiva por que passa a criança ficam patentes e são levadas ao extremo. Apesar das singularidades flagrantes em cada caso de autismo, um traço bastante comum ao transtorno diz respeito à recusa de explicitação subjetiva nas instâncias da linguagem: a criança autista parece fugir, em graus diversos, aos índices de subjetividade disponíveis na linguagem e às formas de interação que a coloquem à mostra para o outro. Em virtude disso, configura-se no autismo uma questão particularmente intrigante para investigadores e leigos: qual a forma de acesso ao mundo retraído das crianças diante da aparente ausência de linguagem? Apoiados em postulados teóricos de Benveniste (1988 e 1989), segundo os quais a enunciação dispõe de mecanismos que demandam continuamente do indivíduo uma tomada de posição como sujeito, buscaremos analisar de que modo o transtorno autístico na linguagem pode revelar a singularidade do sujeito na língua. Para enunciar ou mesmo para compreender a enunciação do outro é necessário que o sujeito assuma as bases da linguagem condicionantes do ato enunciativo, quais sejam: temporalidade, espacialidade e pessoalidade. Nosso corpus é formado por dados de interação entre uma criança autista e uma terapeuta da clínica de linguagem. Os resultados mostram que, através da observação dos movimentos da enunciação, é possível perceber regularidades e singularidades da criança autista na linguagem.


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UFRPE