Uma língua não é um sistema, mas um conjunto de sistemas linguísticos. Muito do que existe hoje na sincronia atual de uma língua, as chamadas "variantes", deve-se também à variação linguística de fases pretéritas. Distinguir o que é conservação do que é inovação não é tarefa fácil, como se pode verificar também em outras áreas, como a Biologia. Com base na determinação do nascimento de fenômenos linguísticos de vários tipos (desde a mudança fonética e fonológica até a formação de estruturas complexas como lexias) e de sua perpetuação ou de sua extinção, a pesquisa em sincronias pretéritas torna-se essencial para o melhor entendimento de uma sincronia atual. Esta apresentação circunscreve-se à variante da língua portuguesa representada pelo primeiro dicionário bilíngue da língua portuguesa, a saber, a obra Hieronymi Cardosi Lamacensis dictionarium ex lusitanico in latinum sermonem (1562-1563), de especial importância para a Lexicografia e para a história da língua portuguesa. Em suas 12069 entradas, registram-se grande número de formações de palavras existentes na segunda metade do século XVI, algumas das quais são comuns à língua portuguesa atual, já outras são hoje inexistentes ou relegadas a variantes atuais menos conhecidas da língua portuguesa. Serão apresentados os resultados dessa coleta e sobre eles se discutirão aspectos relativos a questões teóricas à Morfologia e à Lexicologia, tais como a questão da produtividade afixal.
Referências bibliográficas:
Aronoff, Mark. Word formation in Generative Grammar. Cambridge, MA: MIT, 1976.
Cardoso, Jerônimo. Hieronymi Cardosi Lamacensis dictionarium ex lusitanico in latinum sermonem. Lisboa: Ex officina Ioannis Aluari typographi Regij, 1562-1563.
Chomsky, Noam. “Remarks on nominalization”, em Jacobs, Roderick A. / Peter S. Rosenbaum (eds.), Readings in English transformational grammar. Waltham / Toronto / London: Ginn and Company, 1970: 184-221.
Viaro, Mário E. Sobre a inclusão do elemento diacrônico na teoria morfológica: uma abordagem epistemológica. Estudos de Lingüística Galega 2, 2010: 173-190 [disponível em http://www.usc.es/revistas/index.php/elg/article/view/1513/1383. Acesso em 05 maio 2018].