Autobiografias Timorenses: histórias de vida, escrita de si e os fragmentos da nação | Autores: Daniel de Lucca Reis Costa (UNILAB - Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira) |
Resumo: Esta apresentação aborda autobiografias timorenses, escritas em língua portuguesa, como uma “constelação de vidas escritas”. Situado na passagem do Sudeste Asiático para a Oceania, Timor-Leste foi a primeira nação a emergir no século XXI, um território insular, fortemente marcado por tradições ancestrais, de longa duração e quase sempre ligadas à oralidade e ao holismo. Ali, condicionantes básicos da prática autobiográfica, como a cultura escrita e o individualismo, passaram a ter alguma presença apenas a partir da segunda metade do século XX, devido ao maior investimento do Estado colonial português nas instituições educacionais. Contudo, as primeiras autobiografias timorenses só foram publicadas no contexto da ocupação indonésia (1975-1999), escritas por personagens que estavam diretamente envolvidos na luta por libertação e que buscavam explicar os acontecimentos e denunciar as injustiças, sensibilizando o público leitor para a causa nacional. Posteriormente, com a restauração da independência, em 2002, novos escritos de si começaram a ser publicados, dando testemunho do conflito, justificando ações e formas passadas de existência. Assim, a escrita autobiográfica timorense associa-se não só à criação literária, mas também à escrita da história, de modo que as narrativas e trajetórias pessoais se apresentam como “fragmentos da nação”, peças instáveis de um delicado quebra-cabeça a ser montado e interpretado após o torpor do conflito. Sugiro então que as autobiografias timorenses podem ser lidas como palcos de performances íntimas e encenações polêmicas, teatros da subjetivação e reivindicação de posições públicas. Estas escritas de si contam histórias de alianças e oposições, traumas e tensões, e são elas mesmas resultantes destas histórias. Ao propor uma leitura ampliada e de contraponto, e deter-me em alguns trabalhos mais específicos, sugiro que estas obras são poderosos signos da modernidade timorense, histórias que narram a vida da nação entendida como um indivíduo coletivo e como uma coleção de indivíduos.
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