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| Historiografia e nacionalismo em dois livros timorenses:
Mapeando "As Elites de Timor" (1973) e "Os Loricos Voltaram a Cantar" (1977)
| Autores: Daniel de Lucca Reis Costa (UNILAB - Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira) |
Resumo: Na segunda metade do século XX Timor-Leste experimentou duas sucessivas eras de dominação estrangeira: o colonialismo português e a ocupação indonésia. Neste processo a propagação das narrativas históricas desempenhou papel central nos combates políticos-culturais, seja como instrumento de difusão de referências estrangeiras, seja no desenvolvimento de práticas alternativas capazes de valorizar a tradição intelectual e a imaginação história autóctone. Em meados dos anos setenta, entre os estertores do colonialismo português e a eminente invasão indonésia, emerge um movimento de libertação timorense que propõe uma nova narrativa da história nacional. Esta comunicação descreve o contexto de aparição de duas obras representativas da nova historiografia nacionalista timorense: As Elites de Timor e Os Loricos Voltaram a cantar. Escritos em língua portuguesa e publicados em Lisboa, respectivamente nos anos de 1973 e 1977 - o primeiro imediatamente antes e o segundo imediatamente depois da Revolução dos Cravos (1974) e da invasão indonésia (1975) - estes dois “livros-manifestos” constituem obras fundadoras do pensamento nacionalista timorense e da historiografia do país, elaborando uma história à contrapelo da mitologia colonial lusíada e da nova historiografia indonésia, que enquadravam a meia ilha de Timor no interior de suas próprias narrativas-mestras. O autor destas duas obras em tela, Abílio Araújo, descendente das casas nobres de Suro e jovem estudante de economia na metrópole, foi, à época, fortemente influenciado pela luta anti-colonial africana, tornando-se um dos integrantes mais radicais do partido liberacionista de seu país, a Fretilin (Frente Revolucionária Timor-Leste Independente). Esta apresentação, além de discutir o conteúdo inovador destas publicações, pretende problematizar as especificidades de suas condições de produção, circulação e recepção, tratando estas obras como saberes localizados em redes de relações materiais e simbólicas, objetos político-culturais que viajam, produzem efeitos, e neste processo são reproduzidos, contestados e/ou valorizados.
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