Os discursos de humor via de regra tem um alvo, o qual é rebaixado por meio da atribuição de valores negativos. Quem ri, por outro lado, distancia-se do objeto do riso, o que evidencia a relação hierárquica que marca essa forma de interação linguageira. O texto de humor pode ser enunciado por qualquer sujeito, sem que ele se sinta responsável pelo dito; isso é possível porque esse tipo de discurso tende a ser creditado à  vox populi. Em outras palavras, trata-se de um dito que pertence à determinada comunidade linguística, fazendo parte de um conhecimento que é partilhado não apenas por aqueles que estão em interação na cena discursiva, mas também por quem está fora dela, os sujeitos sociais. Diante da complexidade desse contrato comunicativo, este estudo teve por objetivo a análise dos discursos de humor que constroem  a representação do feminino. Para isso, utilizou-se da análise do discurso de linha francesa, bem como da semiótica greimasiana, especialmente no que tange à investigação do pleno de conteúdo. A análise do corpus, cuja constituição levou em consideração diversos textos que tinham a intenção humorística, permitiu a identificação da recorrência de determinados temas, de modo que os textos foram reunidos de acordo com os grupos temáticos estabelecidos. São eles: competência emocional, competência intelectual e beleza e sexualidade. Os discursos analisados mostraram que a imagem construída sobre a mulher é revestida por valores negativos. O resultado é a configuração de um sujeito (narrativo) não realizado, pouco competente e cujo estado de alma revela a vivência de paixões negativas, tais como a raiva, a inveja e o ciúme. Essa configuração discursiva aponta para uma representação social acerca do feminino marcada pela violência física e simbólica, deixando evidente o quanto a misoginia constitui a noção de gênero.