O presente trabalho objetiva reivindicar um lugar de prioridade para a leitura do texto literário em sala de aula uma vez que nos currículos escolares a leitura literária tem sido relegada a segundo plano em relação ao ensino de história literária (Todorov, 2000). Portanto, compartilha-se aqui um trabalho desenvolvido no ano de 2018 com duas turmas do 2º ano do ensino médio no Colégio de Aplicação da UFG com a leitura de “O cão sem plumas”, de João Cabral de Melo Neto. Nesta instituição o Departamento de Língua Portuguesa desenvolve o projeto de pesquisa Formação do jovem leitor literário, o que tem levado o corpo docente a buscar estratégias que franqueiem o caminho entre o aluno e o texto literário, uma vez que se crê que a literatura é, de acordo com Candido (1999), um bem incomensurável, direito de todo cidadão,  e aporte de humanização do leitor. Tal poema do escritor pernambucano foi escolhido uma vez que, por um lado, é obra de extremo apuro estético, cânone literário indiscutível e, por outro, coloca em questão a precarização do meio ambiente e do homem que nele (dele) vive, no caso, o Cão sem plumas representa o rio Capibaribe, mas também o homem que vive às suas margens, duplamente marginalizado. O contexto da degradação ambiental tem apelo com jovens e, em  diálogo com documentários sobre o rio, com a música do mangue beat pernambucana e com o espetáculo de Débora Colker inspirado na obra, desenvolveu-se o trabalho de mediação transdisciplinar, juntamente com docentes das áreas de História e Geografia, o que promoveu a empatia literária e a construção de sentido por parte dos alunos.