O ensino das Línguas de Herança (LH) (VALDEZ, 1995), nomeadamente do Português como Língua de Herança (PLH) (FLORES & MELO-PFEIFER, 2014), é permeado por vários desafios, dentre outros de ordem didática, pedagógica e institucional (PINHO, 2016). A oferta do ensino formal das LH, especificamente do PLH (MORONI, 2015) não é uma obviedade, resultando em um longo e delicado trabalho de conscientização da comunidade alvo à cerca de seus direitos linguísticos, além da vontade política dos países de acolhimento. O caráter pluricêntrico da Língua Portuguesa implica, ademais, numa diferenciação na oferta do ensino do PLH, resultando em variadas constelações (COSTA WÄTZOLD, 2019, em preparação). Designadamente no caso da Alemanha, a oferta do ensino formal de PLH varia nos estados federados, e onde não há oferta institucional de PLH surgem iniciativas para transmissão dessa língua num contexto não formal/informal de ensino. Essa contribuição consiste numa investigação qualitativa com abordagem etnográfica sendo parte de um estudo mais alargado no âmbito de um doutoramento em curso na Universidade de Hamburgo. Pretende-se apresentar uma alternativa para o ensino não institucionalizado do PLH. EM foco está o dispositivo didático Mala de Herança (MH), que atua em Munique na promoção e transmissão do PLH e expandiu-se significativamente na Europa. Questiona-se, quais são os potenciais e efeitos aquisitivos – simultaneamente linguísticos e culturais - da MH. Os dados foram recolhidos no período de janeiro a julho de 2018, através de questionários e entrevistas junto aos pais e às moderadoras das respectivas iniciativas, além de um focus group realizado com as crianças que frequentam o projeto. Para a interpretação dos resultados utilizou-se a análise de conteúdo (MAYRING, 2010). Objetiva-se demonstrar o funcionamento da MH bem como exemplificar quais as dinâmicas fomentadas para a construção da identidade e como essas dinâmicas são percebidas e re-construídas pelos pais em seu cotidiano.