Embora em Guiné-Bissau o português tenha status de língua oficial, esta língua é falada por apenas cerca de 13% da população, sendo majoritariamente como L2 ou L3 (COUTO; EMBALÓ, 2010). O país é um território multilíngue e multiétnico, onde encontram-se mais de vinte grupos com suas respectivas línguas, sendo estas L1 da maioria dos guineenses. Entretanto, é o crioulo guineense, kriyol, a língua da unidade nacional, falada no âmbito familiar, nos serviços públicos e na rua (COSTA, 2014).
De acordo com Augel (2007), a sociedade crioula vive na capital do país e nos centros urbanos, onde se encontram os falantes de português, tendo o crioulo como sua língua materna. É diante desse cenário multilinguístico que investigamos se o contato entre o kriyol e a variedade de português de Guiné-Bissau (PGB) influenciaria as características prosódicas dessas duas línguas e em que medida poderíamos atribuir ao contato tais semelhanças entre elas.
Neste trabalho, levantamos algumas das questões que envolvem o contato de línguas (THOMASON; KAUFMAN, 1988; THOMASON, 2001; QUEEN, 2001; CLEMENTS; GOODEN, 2009) assim como apresentamos a metodologia utilizada para a realização de nossa investigação sobre a prosódia do PGB e do kriyol, que tem como objetivos (i) analisar os padrões entoacionais do PGB e do guineense, fornecendo uma descrição da entoação de diversos tipos frásicos e funções pragmáticas, como declarativas neutras e focalizadas, interrogativas neutras e focalizadas, perguntas eco, imperativos e vocativos; e (ii) analisar o fraseamento prosódico das duas línguas, no que tange à investigação da relação entre a associação de eventos tonais ao contorno entoacional e a formação de constituintes prosódicos, utilizando o aparato teórico da Fonologia Entoacional (BECKMAN; PIERREHUMBERT, 1986; LADD, 2008 [1996], entre outros) e da Fonologia Prosódica (NESPOR; VOGEL, 2007 [1986], entre outros).