Sob o brilho e o glamour da Belle Epoque francesa subjaz um fundamento político-filosófico pouco estudado que, no entato, permanece entre os alicerces da atual república francesa. No combate aos extremismos que colocaram Terceira República (1870-1940) em risco (projetos de restauração monárquica e aspirações communardes, por exemplo), assim como contra o niilismo em voga entre os meios artísticos e literários, surge uma corrente eminentemente republicana, calcada no “solidarismo”, no “neocristianismo” laico e “tolstoizante”, e no “neokantismo”. Essa vertente será abraçada por alguns setores da intelectualidade, sobretudo os professores de liceu, que vão encontrar no Bulletin de l’Union pour l’Action Morale (1892-1905) um aglutinador de ações sociais (de amplidão inclusive internacional por sua interação com outras Sociedades Éticas na Europa e nos Estados Unidos) e um divulgador de um ideário republicano que ainda prevalece em setores do ensino público francês nos dias de hoje. Serão vistos o papel chave desse boletim, suas principais inspirações político-filosóficas (aqui resumidas nas expressões entre aspas acima), suas maiores campanhas (com destaque para o Caso Dreyfus), e seu impressionante alcance enquanto formador de opinião junto à sociedade e, sobretudo, parte da intelectualidade da Belle Epoque. O diretor do BUAM, o jornalista e professor Paul Desjardins, é um excepcional exemplo de intelectual que, como tantos outros nesse período, percorre o trajeto do poeta diletante ao artista engajado