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Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo

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O recurso ao diário em A Noite da Espera: tentativa de superação de um trauma familiar e de um trauma histórico-político

Autores:
Alexandre Luiz Ribeiro da Fonseca Júnior (UFMG - UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS)

Resumo:

 O objetivo deste trabalho é identificar no gênero diário, a partir da leitura do romance A Noite da Espera,  as possibilidades mais propícias para o entendimento de si e da situação histórica pela qual o protagonista atravessa em um momento de extrema crise familiar e de uma crise histórico-política vivida pelo Brasil no auge da repressão do golpe de 1964. Nesse sentido, a partir da leitura do livro, percebe-se que Martim, o diarista e protagonista portanto, abre o diário em Paris, já no exílio, em 1978, com a tentativa de recuperar seu passado sombrio, arquivado em fotografias, cartas e no diário mantido por ele há 10 anos do presente da enunciação. Tal atmosfera, profundamente traumática e agressiva, aliada à crise familiar, provoca no narrador demasiada angústia, crise identitária, revoltas consigo mesmo, dúvidas, indignação, desespero, medos e traumas. Assim, defendo que o recurso ao diário, aludindo-me a Blanchot, é essencialmente potencial para a sobrevivência a esse caos e para a conservação da memória de um tempo em que a consciência individual se amparará na consciência coletiva para tentar vencer os males provocados por um regime cruel, sanguinário, torturador, censurador e limitador da liberdade de expressão. Recorrendo-me ao referencial teórico e crítico pautado em Philippe Lejeune (2014), em Marcello Duarte Mathias (1997) e em Maurice Blanchot (2005), argumento que Milton Hatoum, ao escrever tal narrativa, utiliza do diário pois este se apresenta como um gênero híbrido, favorável à instauração da liberdade diante da censura, à reflexão de si mesmo pelo narrador em um momento de profunda crise, ao seu autoconhecimento, à resistência pelo ato de escrita, à potência de vida diante de um corpo simbólico, conjurando o esquecimento e a morte, pois a escrita diarística pressupõe a fixação do tempo.