Continuum de ruralidade: análise sociolinguística na Zona da Mata Mineira | Autores: Patricia Rafaela Otoni Ribeiro (IFAM - INSTITUTO FEDERAL DO AMAZONAS) |
Resumo: O presente estudo objetiva contribuir para a compreensão da variação linguística na fala da zona rural de duas localidades na Zona da Mata de Minas Gerais. Trata-se de uma investigação com o respaldo teórico-metodológico da Sociolinguística Variacionista (LABOV, 1972, 1982, 1994, 2001) e com contribuições dos estudos sobre Redes Sociais (MILROY, 1980, 1987, 2004; MILROY & MILROY, 1985; BORTONI- RICARDO, 1985, 2011) e Sociologia Rural (ABRAMOVAY, 2000; WANDERLEY, 1994, 1998, 2009). A pesquisa, desenvolvida como tese de doutorado e orientada pela Profa. Dra. Patrícia F. A. da Cunha Lacerda, analisa dez fenômenos do falar rural elencados por Amaral (1920) e Castilho (2010) e contrasta-os aos dados obtidos através de 24 entrevistas sociolinguisticamente orientadas. Assim, foram observadas as variações em relação à: i) ditongação das vogais tônicas seguidas de sibilante no final das palavras; ii) perda da vogal átona inicial; iii) perda da distinção entre ditongos e vogais em contexto palatal; iv) monotongação dos ditongos nasais finais; v) rotacismo; vi) realização da lateral palatal [λ]; vii) perda da consoante [d] quando precedida de vogal nasal; viii) perda do [l] no pronome pessoal de terceira pessoa; ix) simplificação da concordância nominal; e x) simplificação da concordância verbal. Dentre os resultados, constata-se que as duas localidades apresentam variantes tipicamente rurais elencadas nos estudos anteriores, mas a discrepância nos percentuais das variantes conservadoras entre Belmiro Braga-MG e Oliveira Fortes-MG (46,3% e 75,5%, respectivamente) indica um continuum de ruralidade entre as zonas rurais, o qual pode ser mensurado por meio da frequência de traços graduais e descontínuos. Entre os moradores das zonas rurais, também há gradações de ruralidade. Dessa forma, defende-se que o espaço rural é um território linguístico heterogêneo, sobre o qual a investigação sociolinguística precisa ser fomentada para que a variação presente nas zonas rurais brasileiras seja conhecida, respeitada e valorizada.
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