Este trabalho examina o modo como Antonio Candido analisa a obra de Clarice Lispector, enfatizando a resistência da presença feminina sob a ótica da recepção do romance Perto do coração selvagem (1943). Para compreendermos tal análise, baseamo-nos, principalmente, no ensaio “Tentativa de renovação” do primeiro livro do autor, Brigada ligeira (1945), por meio do qual busca captar, rápida e eficazmente, uma suposta unidade na literatura publicada na década de 1940. A pesquisa foi desenvolvida em três etapas: estudo do romance e do método analítico de Candido, comparação entre a crítica produzida sobre o romance em relação à de romances coetâneos e descrição dos resultados obtidos. Examinamos o estilo da escritora, sobretudo a tensão psicológica decorrente da combinação de espaços indiferentes e tempos não cronológicos por meio dos quais a protagonista, Joana, tenta aproximar-se de um estado de vida inefável em um ritmo de duração interior (CANDIDO, 1992, p. 100). Levamos em conta, também, o fato do crítico considerar Perto do coração selvagem uma experimentação estética falha na medida em que performa influências estrangeiras.  Por fim, Antonio Candido destaca valores estéticos, psicológicos, sociológicos e interpretativos na análise da obra de Clarice Lispector, a qual representa a única personalidade literária feminina dentre dez obras estudadas no livro.