Apesar de não ter priorizado a escrita de obras literárias dedicadas ao público infantil, Osman Lins se dedicou à criação de Capa-Verde e o Natal (1967), peça teatral que posteriormente adaptou para conto sob o título de O Diabo na Noite de Natal (1977). Nesta narrativa, a interação das personagens referenciais e caricatas - de diversas esferas culturais, desde o folclore à literatura sacra - realçada pela plasticidade carnavalesca, expõe os vestígios de uma experiência literária e determinado posicionamento crítico-social do autor. A cosmovisão carnavalesca permite significar a intertextualidade presente na trama em prol da desconstrução do cânone da “cultura oficial”, agregando ao sentido de “cultura” não apenas aquilo que é considerado erudito, mas também o que está relacionado essencialmente ao popular. A ressignificação do intertexto imbuída de uma linguagem de protesto contra máscaras autoritárias do discurso oficial colocam a carnavalização em função da reconstrução de uma identidade, ou melhor, da liberdade de recriar valores de forma democrático-socializante e pluralista. Por meio da carnavalização, Osman Lins promove tanto o estreitamento na relação entre a literatura para a infância e a noção de pluralidade cultural quanto a possibilidade de ampliação da capacidade de interpretação da criança enquanto leitora – de livros e do mundo.