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Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


Machado de Assis nas páginas de A Estação: um profeta da Belle Époque tropical

Autores:
Flávia Vieira da Silva do Amparo (UFF - Universidade Federal Fluminense, CPII - Colégio Pedro II)

Resumo:

Nas páginas de A Estação (1879-1904), revista fluminense dedicada às mulheres, prenuncia-se o projeto de sociedade que começa a ser esboçado pelos intelectuais e pensadores no final do séc. XIX. Conforme afirma Sussekind (1984): “Acreditava-se, à época, no poder das ‘ideias’ e dos ‘intelectuais’ de transformarem a sociedade. De haver ‘remédios’ e ‘receitas’ capazes de curar um organismo social doente”. Os objetivos desse projeto eram investir na educação da família, particularmente das mulheres, no desenvolvimento e modernização das cidades, na mudança de hábitos dos cidadãos e no incremento das ideias capazes de promover transformações no panorama da saúde física e mental do brasileiro, embora sem problematizar as causas mais iminentes da desigualdade social.

   Machado de Assis, como um dos colaboradores da revista - com 58 produções literárias publicadas, conforme contabiliza Ubiratan Machado (2008) -, concede-nos uma visão peculiar desse período, que vai constituir a Belle Époque fluminense, ao encenar em sua produção literária os contrastes e confrontos entre o desejo transformador e reformador da sociedade e a necessidade de manutenção da antiga ordem social.

   Antevendo o papel crucial que a Ciência e os intelectuais vão desempenhar nesse fin de siècle, o escritor publica nessa Revista obras de grande relevância crítica, como O alienista e Quincas Borba, sublinhando a influência dos homens doutos e de ciência na nova concepção e organização da vida fluminense, assim como levantando questões importantes acerca das contradições advindas da mescla entre ciência e crendices nos discursos da época. O olhar irônico do escritor, um fisiologista da alma humana, aponta-nos profeticamente as incongruências de uma modernidade que aposta nas reformas sanitárias e no embelezamento da cidade como medidas para sanear as relações humanas, sem pensar em garantir as condições essenciais de subsistência às populações pobres e sem um plano de reinserção social dos ex-escravos no Pós-Abolição.