A literatura é uma importante via de instrução e de educação, ao ser proposta como instrumento intelectual e afetivo, conforme aponta Antonio Candido. Nesse sentido, pode-se dizer que a prática efetiva da leitura literária na sala de aula contribui para que se cumpra o inciso III da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, no que se refere ao aprimoramento do educando como pessoa humana, sua formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico.  Isso ratifica a importância da leitura do texto literário e, em específico, do texto poético nas aulas de Língua Portuguesa. A proposição “Eu é um outro”, do poeta francês Artur Rimbaud, no contexto da poesia moderna, coloca o desafio da experiência da outridade.  Deslocada para o trabalho com a leitura do texto poético em sala de aula, ela possibilita que a poesia potencialize a construção da subjetividade do jovem leitor, por meio da ativação do elo entre leitor, poeta e texto poético. Neste trabalho, serão apresentadas algumas reflexões sobre uma atividade desenvolvida com a leitura da obra Poemas dos becos de Goiás e estórias mais, de Cora Coralina, cuja marca moderna mais expressiva está no fato de o sujeito lírico sair de si para assumir a voz da lavadeira, da “mulher da vida”, da casas e dos becos de Goiás. A efetivação da leitura dos poemas se deu com a experiência de os alunos descolarem as suas vidas vividas para a outridade e, assim, colocar-se, ainda que ficcionalmente, no papel do outro com seus dramas humanos universais. Os resultados apontam para uma potencialização da leitura literária e  para o afinamento com o gênero lírico, bem como com a empatia na elaboração da identidade.