Imprimir Resumo


Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


O projeto de Reforma Ortográfica de 1907 entre polêmicas e silenciamentos: o tupi em questão

Autores:
Simone de Brito Corrêa (UFF - Universidade Federal Fluminense)

Resumo:

Este trabalho, situado na articulação entre a Análise de Discurso e a História das Ideias Linguísticas, volta-se para a discussão de aspectos linguístico-político-discursivos relativos à celeuma envolvendo a supressão da grafia do y, constante de item do projeto de Reforma Ortográfica proposto por Medeiros e Albuquerque à Academia Brasileira de Letras em 1907. A análise incidiu sobre posicionamentos discursivos depreendidos em artigos de dicionaristas, filólogos e tupinólogos. Em especial, detivemo-nos sobre os modos de produção de sentidos relativos ao papel do tupi no processo de constituição do português no Brasil. Em síntese, a análise apontou para uma deslegitimização do tupi, quer pelo viés da falta (de alfabeto, etimologia e literatura), quer por sua descaracterização (e mera utilização instrumental) nas missões jesuíticas. Assim, podemos dizer que se trata de um modo de produção de sentidos em consonância com o discurso da colonização (Orlandi, 1990; 2008). No último caso, a significação da língua geral amazônica como “tupi missionário” (isto é, um tupi despojado de suas características originais) trabalha discursivamente no sentido de restringir à categoria de empréstimos lexicais a contribuição do tupi ao português brasileiro. Serve, portanto, a uma direção de sentidos que atua interditando a tese central dos defensores de uma língua brasileira, uma vez que um tupi “aculturado” não se sustentava como argumento base para a alegada dissonância com relação ao português europeu. Segundo Orlandi (1990; 2008), no processo de produção de sentidos cabe ressaltar também o que não se diz. No caso em questão, trata-se do predomínio, sobre o português europeu, da língua geral na região amazônica até quase meados do século XIX.