Um amor cortês (1996), da escritora portuguesa Filomena Cabral, encerra a trilogia iniciada com a publicação de Madrigal (1993) e Angola, no entretanto do tempo (1994). No último volume dessa trilogia, por meio da 'memória' da narradora/autora e de algumas incursões no universo do fantástico e do maravilhoso, é possível revisitar a história e a geografia portuguesas entrelaçadas a uma visão feminina sobre a vida e o amor para procurar compreender “a maneira de ser de seu país” (ABDALA JR., 1997), mas de uma perspectiva feminina- característica que tem sido observada na produção literária portuguesa de autoria feminina contemporânea. Isso se dá por uma espécie de ‘retorno’ à Idade Média, às origens de Portugal como nação, à época dos Descobrimentos, mas também ao diálogo da narradora/autora com a literatura portuguesa e a cultura europeia e uma profunda conscientização, de uma perspectiva contemporânea, da atual posição de Portugal no contexto mundial. O objetivo desta comunicação consiste na análise do papel da narradora nessa narrativa híbrida, que revela o 'amor cortês' como legado deixado pela Tradição (COELHO, 2008, p.9), tanto no que concerne "à mulher que busca sua nova identidade feminina” quanto a “Portugal que procura ‘se cumprir’ novamente, com a grandeza com que o fez no ciclo dos Descobrimentos" (COELHO, 2008, p.12). Quebrando a hegemonia discursiva masculina sobre a História portuguesa e a história da mulher lusitana, essa narradora percebe que a língua é sua herança, por meio da qual ela tece essas duas 'histórias', revelando e construindo com o leitor novos sentidos e novas possibilidades de leitura para tais histórias.