Vozes da migração alemã dos anos 1930-1940: resgates histórico-discursivos d[n]a DOPS-PE | Autores: Mari Noeli Kiehl Iapechino (UFRPE - Universidade Federal Rural de Pernambuco) |
Resumo: Durante o Estado Novo, em um contexto sócio-histórico de conflitos entre princípios étnico-identitários e nacionais, a Delegacia de Ordem Política e Social instituída por Vargas expressava a resposta institucional à ameaça representada por sujeitos que, supostamente, intentavam contra a estabilidade das elites dominantes. À época, para programar estratégias de repressão era necessário o controle social a partir do controle de informações, daí a execução de um sistema completo de protocolos, registros e arquivos que geraram farta documentação. Lidar com essa documentação implica conviver com discursos de naturezas as mais distintas – discurso da ordem (o policial); discurso da desordem (o da resistência); e discurso colaboracionista (o do delator e da grande imprensa). Considerando-se, então, esses discursos e tomando-se como subsídios os pressupostos teóricos da Pragmática (Adamzik, 2000; Mey, 2001); da Análise do Discurso (Amossy, 2005; Foucault, 1992) e da História Cultural (Cavarero, 2011; Zumthor, 1993/2007) e de categorias que buscaram aproximar a dimensão léxico-semântica (marcadores de evidencialidade) da pragmático-discursiva (como as redes de gêneros d[n]os prontuários; o gênero depoimento; as condições de produção texto-discursiva e de retextualização; o perfil dos interlocutores; e a pressuposição pragmática), buscou-se responder às seguintes questões: se o discurso representa uma relação, se o outro nessa relação, no caso dos depoimentos coletados na DOPS-PE nos anos trinta e quarenta do século XX, é um delegado de uma polícia repressiva e que representava os alemães como “inimigos da pátria”, qual a representação de mundo ou qual a representação do Brasil tinham ou passaram a ter os alemães em seus depoimentos e em suas prisões? Se toda sociedade, de acordo com Mey (2001) expressa a organização coletiva de suas vozes em textos, quais vozes ainda podem ser “ouvidas” nesses depoimentos? Não estariam as vozes presentificadas nesses discursos contrariando o princípio elementar de uma ontologia da unicidade, conforme Cavarero (2011)?
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