Cada classe de palavras está prototipicamente associada a determinadas funções e processos de constituição do enunciado: os nomes à referenciação ou os adjetivos à predicação. A capacidade de uns e outros assumirem outros valores discursivos e pragmático-funcionais será aqui explorada, em vista ao conhecimento das suas condições e dos seus efeitos de uso, uma vez amplamente documentado que os critérios estruturais e categoriais não são suficientes para descrever e explicar a plasticidade discursivo-textual e pragmático-funcional de algumas palavras, no seu uso concreto em situação de interação. No decurso deste estudo observam-se os mecanismos de reanálise funcional — gramaticalização, dessemanticização, discursivificação, (inter)subjectificação, expressivização — que os itens lexicais sofrem em situação de uso.

Os efeitos do uso no significado envolvem processos de abstratização e de genericização, que se podem traduzir por desbotamento, indistinção ou até mesmo esvaziamento semântico. A perda/inexistência de iconicidade é patente em estruturas opacas, nas quais a relação entre forma e significado é, pelo menos aparentemente, arbitrária, no sentido de que se perdeu total ou parcialmente o significado original. A an-iconicidade é patente em construções cujo sentido é difuso, requerendo informações contextuais para a delimitação deste. Observaremos de que modo o PB e o PE codificam alguns desses processos de transformação de sentidos em função do seu uso textual e discursivo, qual a interação entre diferentes mecasnismos de reanálise funcional, quais os custos de processamento da opacidade ou da difusividade sémicas. Serão analisadas estruturas diversas que se prestam a leituras com elevado factor de expressividade e de interacionalidade.