Imprimir Resumo


Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


O último Foucault e a ética cínica

Autores:
Eric Duarte Ferreira (UFFS - Universidade Federal da Fronteira Sul)

Resumo:

Da análise de Foucault a respeito das transformações da prática da parresia, podemos traçar uma linha diretriz que perpassa seus diferentes momentos: esse modo franco e livre de dizer se refere à maneira de constituição do sujeito que emergiria no entrecruzamento de um duplo movimento de fala, cujos vetores são sua personalização do verdadeiro e sua exposição como sujeito dessa verdade. No âmbito do estudo da parresia filosófica, o olhar foucaultiano incide para as práticas ascéticas do cinismo e vê nelas esse movimento de personalização e de exposição, o qual tem no desapego a radicalidade do dizer verdadeiro. A obra Conversações, de Epiteto, examinada no Curso de 1984, incita esse olhar à problematização das relações entre verdade e vida: o objetivo da diatribe seria, nesse contexto, o de produzir uma intervenção verbal que, em função de sua relação com a alteridade da vida do cínico, mostra que os homens se enganam, buscam no lugar errado a paz e a felicidade. A verdadeira vida, “ao mesmo tempo forma de existência, manifestação de si, plástica da verdade, mas também empreitada de demonstração, convicção, persuasão através do discurso”, é uma vida diferente daquela em que os outros estão. Assim, a vida cínica aparece como manifestação testemunhal do desapego a qualquer outra forma de existência, porque para o cínico os outros é que estão no erro. Pela prática da parresia, ou seja, pela coincidência entre a verdade do enunciado e a verdade daquele que fala, o cínico convoca todos os homens a viverem de outro modo. Neste trabalho, objetivamos discutir a tese de que Foucault dá relevância singular ao cinismo porque o tema da radicalidade do desapego que constitui o sujeito ético cínico é fundamental para a compreensão das práticas cristãs de confissão e de testemunho de vida, práticas de algum modo ainda presentes.