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Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


A ESCRITA DE HAITIANOS NA CIDADE DE CUIABÁ-MT: MODOS DE MATERIALIZAÇÃO DA LETRA DO/NO INCONSCIENTE

Autores:
Olimpia Maluf-souza (UNEMAT - Universidade do Estado de Mato Grosso) ; Águeda Aparecida da Cruz Borges (UFMT - Universidade Federal de Mato Grosso) ; Wellington Marques da Silveira (UNEMAT - Universidade do Estado de Mato Grosso)

Resumo:

A imigração tornou-se um problema mundial dado o fluxo, as motivações, as políticas de (não)acolhimento dos países e os problemas daí advindos: desrespeito à dignidade humana, violência, miserabilidade, competitividade etc. A imigração pode ser voluntária – vontade de mudança –; e involuntária – conflitos políticos e religiosos, perseguições, guerras, catástrofes naturais e miséria, gerando os refugiados, que, frequentemente, se tornam expostos à situação de intolerância nos países “escolhidos” para viverem. Os refugiados necessitam escapar à pulsão de morte e de se colocarem como sujeitos de si e do novo espaço. O Brasil recebe atualmente imigrantes de vários países, especialmente do Haiti e da Venezuela. Nessa perspectiva, pretendemos compreender, à esteira dos trabalhos de Michel Pêcheux em articulação com os de Lacan sobre o inconsciente, como imigrantes haitianos foram “acolhidos” na cidade de Cuiabá, em Mato Grosso, por processos específicos de subjetivação e de espacialização no/pelo espaço urbano, materializados em formas de escrita que se instalam, na cidade, enquanto modos de materialização do dizer do inconsciente, ou seja, enquanto a letra como manifestação de um inconsciente “estruturado como uma linguagem” (LACAN, 1998). Recortamos, particularmente, a imigração de haitianos para a cidade de Cuiabá, cujo gesto de “acolhimento” gerou/gera a formação de “guetos”, em bairros periféricos, a adoção massiva de haitianos para o trabalho, tornando-os mão-de-obra “barata”, tanto pela falta de documentos quanto pela ausência de fiscalização das leis trabalhistas, o que consideramos como “modos contemporâneos de escravidão” (MALUF-SOUZA, 2018). Essas condições de sobrevivência/(não) pertencimento de haitianos na cidade, ensejam gestos de interpretação e modos de articulação do significante, materializados na forma de uma escrita que começa a se mostrar na cidade, visibilizando/escondendo os modos como o sujeito-imigrante se constitui, nessa manifestação específica da linguagem que se instala por uma escrita de si, ditada pelo Outro, pela letra enquanto instância no inconsciente.