ESCRITA ASSOMBRADA: A PRODUÇÃO DA SEGUNDA-GERAÇÃO PÓS-DITATORIAL | Autores: Lua Gill da Cruz (UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas) |
Resumo: “Eu estava lá”. A fórmula, definida por Ricoeur (2007), pressupõe uma autodesignação tripla que marca e inscreve o sujeito do testemunho: a primeira pessoa do singular, eu, o tempo passado do verbo, estava, e a definição de um lugar, lá. A memória e o testemunho se dão, nesse contexto, a partir de um espaço vivido, ou seja, de experiência corpórea do sujeito. Porque o sujeito estava lá, o discurso pode ser autenticado. O problema ético e estético é outro: aquele que não estava lá, pode testemunhar? Pode o leitor acreditar? Esta comunicação tem como objetivo apresentar e discutir a literatura contemporânea brasileira, pós-ditatorial, especialmente produzida pela segunda-geração, a partir de livros como Antes do passado (2015), de Liniane Haad Brum; A resistência (2015), de Julian Fuks; Ainda estou aqui (2015), de Marcelo Rubens Paiva; e A chave da casa (2009), de Tatiana Salem Levy. São narrativas que tematizam a dificuldade ética e estética entre receber e negar e entre contar e silenciar a herança e a tentativa de inscrição do trauma. Tematizam esta “cadeira de transmissão” do trauma a partir do espólio não recebido, o atestado não dado, a justiça não feita, e a dificuldade que permanece nas frestas e na impossibilidade da narração. Interessa pensar como o “(não) dito” ou o traumático pode ser transmitido de maneira inter e transgeracional, portanto. Para fundamentar a discussão, me atenho à literatura das áreas de história, filosofia e psicanálise, em especial, aos teóricos Freud, Cathy Caruth, Hélène Piralian, Marianne Hirsch, Elizabeth Jelin e Gabriele Schwab.
Agência de fomento: FAPESP |
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