A forma literária como mediação dialógica entre culturas indígenas e culturas eurocêntricas | Autores: Rodrigo Octávio Águeda Bandeira Cardoso (UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas) |
Resumo: A literatura indígena brasileira contemporânea remete frequentemente a uma relação entre a fragilidade das circunstâncias a que são expostos os povos indígenas no atual contexto de prolongada colonização interna, frente às pressões nacionais e internacionais do capital e do estado, e a vida das florestas, dos animais e toda uma gama de seres não-humanos que excedem os limites da epistemologia de tradição eurocêntrica e da metafísica cristã. Essas manifestações, apropriando-se dos meios e linguagens literárias das tradições de língua portuguesa, incorporam formas, ritmos e imagens das tradições indígenas. Dessa maneira, obras como Metade Cara, Metade Máscara, de Eliane Potiguara, e A Queda do Céu, de David Kopenawa e Bruce Albert, colocam em jogo recursos poéticos e performáticos das tradições literárias assim chamadas “ocidentais” como a forma do livro extenso, o poema, a ficção autobiográfica, o hibridismo dos gêneros, para mobilizar questionamentos quanto às práticas destrutivas do capitalismo e da modernidade. Ao fazer isso, esses autores constroem-se a si mesmos como aliados e elementos partícipes da natureza, da floresta e dos seres não-humanos que a povoam, em oposição e resistência à ganância do homem branco que os assedia, agride e violenta. No mesmo movimento, produzem uma performance que faz confundir e desconstrói as separações estanques da modernidade entre natureza e cultura, natural e sobrenatural, mito e história, propondo outras epistemologias para compreender o mundo, forçando um diálogo com o sujeito dito “moderno ocidental”, nos termos deste, que, por sua vez, recusava as categorias do "outro" indígena justamente taxando-o, artificialmente, de não moderno e não ocidental, e negando a possibilidade de diálogo. Esta comunicação pretende analisar alguns dos procedimentos usados por esses autores para tornar esse diálogo possível e reivindicar um lugar para sua poesia e seu imaginário num contexto nacional e global.
Agência de fomento: CAPES |
|