Relendo a tradição por meio de poemas eletrônicos: notas sobre Um corvo nunca mais, de Rui Torres | Autores: Vinícius Carvalho Pereira (UFMT - Universidade Federal de Mato Grosso) |
Resumo: Pensar a literatura lusófona contemporânea é necessariamente pensá-la sob perspectiva implicada pela tradição, seja porque o homem contemporâneo é aquele que opera por anacronismos, projetando-se para fora de seu tempo para melhor vê-lo (AGAMBEN, 2009); seja porque a tradição dá temporalidade e atemporalidade à obra de um poeta (ELIOT, 1989), condições para sua instanciação como contemporâneo. Nesse movimento dialético entre agora e outrora, característico do que se convencionou chamar de literatura pós-moderna (HUTCHEON, 1991), colocam-se em xeque os sistemas de literaturas nacionais, esteados em historiografias cuja metanarrativa subjacente pressupunha a linearidade do tempo e uma visão positivista da relação entre língua, literatura e pátria. No que tange a determinadas textualidades contemporâneas, essa revisão de limites vai além das questões de tempo e de história e espraia para as fronteiras entre suportes, sobretudo quando se trata de textos digitais hodiernos que transcriam (CAMPOS, 2013) obras originalmente concebidas para mídia impressa. Considerando a complexidade da sobredeterminação de tais dobras dialéticas entre diferentes tempos, sistemas e suportes, o presente trabalho se propõe a analisar como Um corvo nunca mais, obra de literatura digital concebida no século XXI pelo artista português Rui Torres, lança mão de expedientes poéticos, plásticos e computacionais para colocar-se como contemporânea de um dos mais célebres poemas norte-americanos do século XIX – “The Raven” (“O corvo”), de Edgar Allan Poe – cuja releitura Torres propõe por vias tecnoestéticas ainda pouco exploradas nos Estudos Literários realizados no Brasil.
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