O presente trabalho visa apresentar resultados de uma pesquisa que investigou os padrões funcionais de construções formadas por Verbo + Locativo (VLoc). Construções como essas evidenciam que, diante da variedade de situações comunicativas, o falante, quando não encontra um termo lexicalmente fixo para expressar suas ideias, recorre ao que já está disponível na língua e lhe atribui novas funções, proporcionando, assim, casos de mudança linguística. A propósito, esse tipo de fenômeno, para a abordagem centrada no uso, é um processo essencial da língua impulsionado, a partir do ato comunicativo, por pressões cognitivas, estruturais e de uso relacionadas às estratégias comunicativas usadas pelos usuários durante a interação (MARTELOTTA, 2011). Nesse sentido, a relação entre pares de forma-sentido é um fator importante para a origem e fixação de novas categorias linguísticas. Com base nos pressupostos da abordagem construcional da gramática, enquanto “representação cognitiva da experiência dos indivíduos com a língua” (CUNHA; BISPO; SILVA, 2013), em especial a abordagem da construcionalização e mudança construcional (TRAUGOTT; TROUSDALE, 2013), partimos da hipótese de que as construções VLoc, como, por exemplo, sei lá, se ligue aqui, pegou aí, são resultantes da forte integração de suas subpartes: verbo e o advérbio locativo, cujos significados não são composicionais. Como corpus, utilizamos textos de sincronia contemporânea (século XXI) do português brasileiro. Evidenciamos que essas construções percorrem uma trajetória de construcionalização, a qual foi descrita pelo modelo de tipos de contextos sucessivos, proposto por Diewald e Smirnova (2012): fonte/típico > atípico > crítico > isolado > paradigmatizado, chegando a exercer a função de marcador discursivo e modalizador.