QUADROS TINGIDOS COM PALAVRAS: A REPRESENTAÇÃO DA LOUCURA NO ROMANCE A RAINHA DOS CÁRCERES DA GRÉCIA, DE OSMAN LINS
| Autores: Cacilda Bonfim (UNB - Universidade de Brasília) |
Resumo: Pensar o vínculo entre texto e imagem no romance A rainha dos cárceres da Grécia (1976) do escritor pernambucano Osman Lins (1924 – 1978) configura-se como o escopo primordial dessa análise. O modo como a loucura é representada na obra engendra uma dimensão plástica na mente do leitor diligente. O tema da insânia é tomado em duas perspectivas, tanto como estratégia narrativa, quanto na forma de denúncia político-social. Em relação ao estratagema de composição literária, a autora-personagem, Julia Enone, confere às categorias espaço e tempo um trato híbrido. A fronteira entre Olinda e Recife (local onde se passa parte da história do romance) é removida, criando uma terceira cidade totalmente imaginária, em um misto dos dois municípios geograficamente concretos. Já o tempo não está seccionado em passado, presente e futuro. Maria de França, a personagem da fictícia romancista, transita livremente entre seus períodos. Ela pode ver, por exemplo, cenas da guerra, quando os holandeses invadiram Pernambuco em 1630. Por outro lado, o aspecto político-social salta aos olhos quando se constata a vida miserável de Maria de França que, em meio a crises de demência, realiza uma peregrinação pelo então INPS - Instituto Nacional de Previdência Social – a fim de obter aposentadoria temporária que sempre lhe é negada. Também Julia foi por mais de uma vez internada em hospícios sem que, contudo, apresentasse qualquer distúrbio patológico. Assim, o mergulho na textualidade de Osman Lins revela o primor do fazer literário em suas escolhas estruturais e temáticas, retratando quadros vívidos do Brasil tecido em palavras.
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