Tradicionalmente, os estudos literários sobre a Belle Époque no Brasil se dedicam às obras de Lima Barreto e João do Rio, duas referências praticamente incontornáveis no que se refere ao tema. Entretanto, outro autor capaz de nos oferecer impressões muito particulares e reflexões incisivas sobre a sociedade urbana brasileira do início do século XX é Olavo Bilac. Apesar de ter se consagrado na tradição literária nacional por meio de sua produção poética, seu livro intitulado Registro reúne crônicas publicadas no jornal A Notícia entre 1900 e 1908 e nos coloca diante de um habilidoso observador do cotidiano das ruas e um importante catalisador das ideologias e preconceitos em voga no período. O narrador das crônicas de Bilac se mostra dotado de um agudo senso de humor e de uma rara sensibilidade para captar costumes e fatos determinantes na elucidação do espírito da Belle Époque brasileira. Seu campo de visão se mostra muito amplo, abrangendo os botequins frequentados pelo lúmpen carioca, a urbanização da rua do Ouvidor e até a discussão sobre o português vernáculo do período. Este estudo visa demonstrar, por meio da análise detalhada de quatro crônicas, como pode ser compreendida a relação entre literatura e sociedade a partir desse importante, porém pouco debatido, registro da vida brasileira em um momento incontornável de nossa formação cultural e histórica.