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Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


A desnaturalização dos discursos e a lógica do absurdo em Machado de Assis

Autores:
Rodrigo Silva Trindade (USP - Universidade de São Paulo)

Resumo:

A comunicação consiste em discussão acerca dos contos Ideias de canário (1895) e Jogo do bicho (1904), e duas crônicas da série A semana, de Machado de Assis, respectivamente as de 2 de abril de 1893 e 17 de março de 1895, publicadas no periódico Gazeta de Notícias. Os textos serão estudados em pares: selecionamos uma crônica e um conto que problematizam o cientificismo bastante em voga no final do século XIX; a outra dupla versa sobre a repercussão do jogo do bicho, todas elas questões da ordem do dia nas páginas dos periódicos fluminenses.

O objetivo é demonstrar a recorrência de procedimento empregado por Machado de Assis, que consiste na exploração das temáticas propostas através da construção de um universo que parte de elementos pinçados das páginas dos jornais e se desdobram na construção de um universo absurdo, quase inverossímil, no qual se encontra o potencial crítico do texto. Este será diretamente responsável pela reflexão de segundo nível que o autor propõe tanto nas crônicas quanto nos contos, alcançando o efeito final da desnaturalização dos discursos bem assentados no espaço público e já naturalizados pelos leitores.

A escolha de dois gêneros distintos se presta a verificar a inserção dos textos em um projeto mais amplo e coerente do escritor, bem como perceber as articulações realizadas dos debates colhidos da imprensa e a reelaboração das estruturas que compõem a sua obra.

O referencial teórico que buscamos articular na análise do objeto literário é composto pelos estudos de Silviano Santiago, no que diz respeito à leitura da obra machadiana como um todo; Lúcia Granja, no tocante à inserção de Machado de Assis na imprensa carioca, e Umberto Eco, do qual trouxemos o conceito de autor e leitor-modelo que reputamos apropriado para os textos em específico.