Fruto de um lugar de intersecção vivenciado pela autora, mestre em Linguística Aplicada e graduanda do Tecnólogo em Gastronomia, este estudo tem como objetivo problematizar como a escrita acadêmica é entendida no âmbito do currículo do Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia, da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. Como aporte a tal discussão, este trabalho fundamenta-se nas práticas de mistério correntes no mundo acadêmico (LILLIS, 1999) e na teoria dos letramentos acadêmicos (STREET, 1995; 2009; LEA; STREET, 1998; LEA; STREET, 2006), a partir da qual são colocadas em evidência três perspectivas de análise da escrita: 1) o modelo de habilidades de estudo; 2) o modelo de socialização acadêmica e 3) o modelo de letramento acadêmico. Com base nisso, analisam-se quatro documentos da Universidade aqui examinada: o Projeto Pedagógico do Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia e a ementa das três disciplinas do curso cujo enfoque é a escrita acadêmica (Planejamento e Projetos em Gastronomia, Projeto de Conclusão em Gastronomia I e Projeto de Conclusão em Gastronomia II). Com a leitura de tais documentos, conclui-se que, apesar de o Projeto Pedagógico do curso dar relevância à autonomia dos alunos e à tomada de uma posição ativa no processo de ensino-aprendizagem, as disciplinas de escrita acadêmica se pautam sobre práticas misteriosas, não conscientizando os estudantes sobre as condições gerais de escrita, como propósito e audiência, nem oportunizando a eles o contato com textos de gêneros acadêmicos produzidos pela área da Gastronomia.