DE LOCUTOR A SUJEITO, DA MARGEM AO CENTRO: O ESPAÇO ENUNCIATIVO DE JORNALISTAS DE RUA | Autores: Renata Blessmann Ferreira (UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul) |
Resumo: Com o propósito de democratizar a informação e de atender ao direito à liberdade de opinião e de expressão, foi criado, há dezessete anos, o Jornal Boca de Rua, periódico trimestral produzido e vendido nas ruas de Porto Alegre (RS) por pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Tendo em vista a relevância desse projeto, a partir do qual moradores de rua podem participar com autonomia e cidadania de inúmeras práticas sociais, o presente trabalho, sob orientação da professora Magali Lopes Endruweit (IL/UFRGS), busca compreender de que maneira o Jornal Boca de Rua se configura como uma agência de letramento para aqueles que participam do projeto, assumindo como esteio a noção de intersubjetividade (BENVENISTE, 2006) como essencial na luta contra a privação do exercício pleno da cidadania. Nesse sentido, para a aproximação aqui feita entre os Estudos de Letramento (STREET, 1984) e a teoria benvenistiana, entende-se que o espaço enunciativo oportunizado pelo jornal, construído em vistas a práticas de letramento orientadas para contextos e objetivos específicos, tem como elemento necessário a marcação da subjetividade de seus jornalistas. Com base nos eventos e nas práticas de letramento envolvidas em sua produção e a partir de observação-participante, anotações em diário de campo, análise documental e entrevistas semi-estruturadas, esta etnografia intenta se aproximar das posições sociais ocupadas pelos jornalistas, bem como de suas construções de sentido, produzidas no desenrolar da elaboração do periódico. Com este estudo, busca-se não apenas dar visibilidade a práticas de letramento marginais, mas também reconhecer, valorizar e legitimar a voz da população em situação de rua. Ademais, esta comunicação igualmente incentiva o debate a respeito de questões relativas ao letramento e sua ligação com a criação de espaços de subjetivação, em que se pode estar no mundo através da língua e da cultura escrita.
Agência de fomento: CAPES |
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