Isabelle Olivero (1999), em estudo sobre a história do livro na França, mostra-nos que a noção moderna de “coleção editorial” se estabeleceu na primeira metade do século XIX. Como ela indica, o estudo da história das coleções favorece e converge para estudos mais amplos, uma história cultural – e uma história literária, acrescentamos – que compreende leitores, editores e, entre outros, a noção de cânone. A partir desse texto de Olivero e de um levantamento de dados em jornais, acervos de bibliotecas e catálogos de livrarias, realizamos pesquisa de doutorado – orientada pela Profa. Dra. Lúcia Granja -, na qual buscamos ampliar a compreensão da relação entre a produção da literatura brasileira e o endereçamento desses livros, analisando tentativas de coleção para a literatura. Nessa comunicação, esmiuçaremos a iniciativa de Quintino Bocaiuva, denominada Bibliotheca Brasileira, que, nas palavras de seu organizador, fomentava “um núcleo de publicação para trabalhos originais brasileiros”. O primeiro número da Bibliotheca Brasileira saiu à luz em abril de 1862 e a coleção somou doze números, publicados no período de um ano, correspondentes a oito obras, entre elas As minas de prata, de José de Alencar, e Memórias de um Sargento de Milícias, de Manoel Antônio de Almeida. Apesar de seu propósito patriótico, foi publicado na coleção o romance traduzido Lady Clare, sem indicação de autor ou tradutor. Na ocasião dessa publicação, Quintino Bocaiuva apresentou um prefácio no qual demonstrou as dificuldades para manter com regularidade mensal a oferta de uma obra brasileira. Além disso, após um ano, a iniciativa foi modificada, tornando-se uma revista mensal. Sendo assim, apresentaremos a coleção de Bocaiuva, destacando sua atuação para a produção e circulação da literatura e dos livros, mas também atentando às dificuldades que a iniciativa enfrentou, comuns a outras empresas do gênero.