A questão da utilização do material didático como parte do conjunto de técnicas aplicadas às estratégias de ensino tem ocupado um espaço fundamental para o êxito do trabalho profissional docente na aprendizagem dos alunos. Contudo, a sua utilização pode também servir a qualquer filiação político-ideológica de educação, incluindo à concepção e formação profissional docente em línguas. Neste texto, defende-se o ensino de língua como uma atividade ideológico-discursiva e, como tal, pretende-se discutir epistemologicamente o processo de ensino-aprendizagem do português do ponto de vista da teoria enunciativa do Círculo de Bakhtin e da teorização do material didático como seu instrumento na perspectiva da teoria psicológica da atividade de Leontiev. Procura-se problematizar as potencialidades dos dois conceitos (material didático e instrumento) na atividade da aprendizagem da língua que promova o desenvolvimento do sujeito aprendente, colocando a hipótese fundamental na construção do discurso de que o desenvolvimento resulta da transformação das disposições psicológicas que, por sua vez, instituem no sujeito aprendente funções psíquicas superiores que o permitem pensar a realidade teoricamente. Tais disposições formam uma unidade dialética ao se instituírem como a síntese do objetivo com o subjetivo dos fenômenos da realidade. A construção analítica dessa comunicação far-se-á sob a égide do método histórico-dialético tomando a sua categoria básica da contradição.