A língua de herança (LH) é, como seu próprio nome diz, a língua herdada, um legado transmitido de uma geração, falante nativa dessa língua, a outra, cujo contexto de língua oficial seja diferente do das gerações anteriores. A aprendizagem da LH está relacionada não só à comunicação entre os familiares no aconchego do lar e na expressão dos afetos, mas, especialmente, conforme Lima-Hernandes (2016), a “uma necessidade de delineação identitária”. No entanto, questões como estigma social podem levar a nova geração a rejeitar essa identidade e desejar distanciar-se do modo de falar, vestir, viver dos pais ou dos avós. Aparentemente, é o caso do “gorutubanês”, uma forma dialetal de falar o português usada por um povo cafuzo habitante de uma pequena região do Norte de Minas Gerais chamada Vale do Gorutuba. Os gorutubanos, até aproximadamente 5 anos atrás, eram um povo marginalizado em sua cidade de origem, Janaúba-MG, cujos habitantes, os janaubenses, rechaçavam qualquer envolvimento com a cultura gorutubana. Até mesmo os filhos de gorutubanos, após a escolarização, buscavam maneiras de se distanciar cada vez mais da cultura e modo de falar de seus pais. No entanto, com o surgimento do Projeto “Gorutubanos”[1], algo está começando a mudar. Os jovens têm deixado de sentir vergonha de sua origem, têm nasalizado a pronúncia do “a” sem cerimônia, têm começado a pensar sobre sua história e a memória do seu povo. O objetivo deste trabalho é investigar em que medida o “gorutubanês”, dentro desse contexto, pode ser considerado uma língua de herança, e de que maneira o resgate da autoestima desse povo promovido pelo projeto pode contribuir para o resgate de sua identidade cultural e linguística.
Referências bibliográficas:
LIMA-HERNANDES, Maria Célia. Sociolinguística e línguas de herança. In: MOLLICA, Maria Cecilia e FERRAREZI JUNIOR, Celso. Sociolinguística, sociolinguísticas. São Paulo: Contexto, 2016.
[1] http://gorutubanos.wixsite.com/site/gorutubano