Os verbos terminados em –entar, como amolentar, apodrentar, avelhentar, endurentar, enfraquentar, adormentar, acrescentar ou afugentar, têm suscitado, ao longo dos anos, análises diversas no que diz respeito à sua morfologia e/ou ao seu modo de construção. Por exemplo, no entender de Diez (1874: 373), trata-se de uma «dérivation verbale tirée du participe présent», produzindo o romance desta forma verbos transitivos da 1.ª conjugação com significação ‘factitiva’ a partir de verbos intransitivos. Esta análise é retomada, anos mais tarde, por Said Ali (1964: 248, § 1250), o qual refere que se trata de verbos criados por analogia, com a adição do sufixo -ar a adjetivos terminados em -ante, -ente, -ento.
Posição diferente é tomada por Meyer-Lübke (1895: 664) e, posteriormente, por Nunes (1975: 382-383) e Cunha & Cintra (1984: 102). Para estes autores, o segmento -nt- que ocorre na parte final dos verbos faz parte do sufixo e não da base derivacional. Embora com ligeiras diferenças, as hipóteses interpretativas propostas por Meyer-Lübke e Nunes coincidem no pressuposto de que os falantes da língua (re)interpretam estas formações e as (res)segmentam de uma forma diferente da originária.
Nesta comunicação, para além de apresentarmos as questões fundamentais que a descrição destes verbos suscita em termos lexicogenéticos, analisaremos o percurso diacrónico do constituinte derivacional –entar desde os primórdios da nossa língua, avaliando os efeitos do fenómeno de concorrência mantido com outros processos verbalizadores, especialmente com aqueles que envolvem o elemento sufixal –ecer.