Resumo: Este trabalho busca lançar o olhar para o pronunciamento realizado pelo Presidente da República Michel Temer em homenagem ao dia da mulher em oito de março de 2017. Pretende-se identificar o referencial misógino/machista presente no discurso do presidente, bem como em comentários realizados por sujeitos-usuários do Youtube, demonstrando as incoerências/contradições discursivas que orbitam em torno do pronunciamento de Temer, tomado enquanto “acontecimento enunciativo”. Para tanto, inscrevemo-nos no campo da Análise do Discurso francesa e mobilizamos, especificamente, noções como “masculino” e “machismo” Bourdieur (2018), “discurso”, “história”, “saber-poder” Foucault (1987, 1988, 1996, 1997, 2000, 2002, 2011) e “sexualidade”, “sexo” e “performance” Butler (2017). A partir das análises realizadas, percebemos a construção e disseminação de um domínio do gênero masculino sobre o feminino na sociedade a partir de efeitos de sentidos misóginos e machistas que são ideologicamente constituídas e materializadas através da linguagem. Vemos que o corpo feminino é moldado, em alguns comentários, a partir de uma suposta “força física”, utilizada para justificar uma desigualdade entre os homens e as mulheres. Este fato encontramos em enunciados como, por exemplo, “quer igualdade então carregue 500 sacos de cimento”, colocando o corpo feminino, no que diz respeito à “força física” no mercado de trabalho, em uma condição de inferioridade. Por outro lado, encontramos enunciados que interpelam para uma ressignificação dos papéis de gênero e remarcam uma outra condição de trabalho para a mulher na sociedade brasileira.

Palavras-chave: Discurso. Corpo Feminino. Misoginia.